Traumas intergeracionais

A compreensão dos traumas intergeracionais tem se mostrado um aspecto essencial para o desenvolvimento saudável das famílias e das novas gerações. Estes traumas, que envolvem experiências adversas transmitidas de uma geração para outra, afetam a maneira como os indivíduos se relacionam com seus filhos e moldam a criação, potencializando padrões de comportamento disfuncionais, como violência, abuso emocional e negligência.

Pesquisas indicam que traumas familiares, como a violência doméstica, o abuso de substâncias, e a saúde mental não tratada, podem perpetuar ciclicamente entre gerações, resultando em prejuízos cognitivos, emocionais e comportamentais nas crianças e adolescentes que crescem nesses contextos. Segundo o estudo realizado por Yehuda et al. (2015), descendentes de sobreviventes do Holocausto apresentaram níveis elevados de cortisol, sugerindo uma transmissão biológica de traumas passados. Isso confirma que o trauma não é apenas psicológico, mas pode alterar a fisiologia humana e impactar futuras gerações.

Um exemplo claro da perpetuação de traumas intergeracionais está ilustrado no filme Moonlight (2016), dirigido por Barry Jenkins. O filme acompanha a vida de Chiron, um jovem negro que cresce em um ambiente violento, enfrentando abuso físico e emocional, e o impacto de uma mãe dependente química. O filme ilustra como a exposição contínua a situações traumáticas e a falta de suporte familiar e social moldam as escolhas de vida de Chiron, reforçando o conceito de trauma como algo que transcende o indivíduo e atinge toda a estrutura familiar e social.

Para romper o ciclo dos traumas intergeracionais, é necessário um trabalho profundo de reconhecimento e tratamento das feridas emocionais. A literatura aponta que a intervenção terapêutica pode ser um importante recurso para a cura, proporcionando tanto aos pais quanto aos filhos uma oportunidade de ressignificar suas histórias e promover um ambiente de segurança, empatia e aceitação.

Referências

JENKINS, Barry. Moonlight. [Filme]. 2016.

YEHUDA, Rachel, et al. "Holocaust exposure induced intergenerational effects on FKBP5 methylation." Biological psychiatry, v. 80, n. 5, p. 372-380, 2016.

SEWARD, Olivia A., et al. "Intergenerational trauma and resilience after slavery." Journal of Historical Sociology, v. 32, n. 1, p. 72-83, 2019.

GUTTENTAG, Marcia, et al. "Intergenerational transmission of trauma: Exploring the role of parental PTSD in child development." Journal of Child Psychology and Psychiatry, v. 60, n. 5, p. 556-568, 2019.